O governo do presidente Javier Milei completa 100 dias nesta terça-feira, 19, exaltando conquistas na economia, mas com um agravamento da crise de segurança pública na Argentina. A inflação dá sinais de enfraquecimento graças a um duro ajuste que também provocou o aumento da pobreza e afetou o setor do consumo.
A piora da criminalidade abriu um novo flanco de problemas para Milei resolver. Nas últimas semanas, a cidade de Rosário tem vivido uma escalada sem precedentes de violência, com criminosos matando aleatoriamente e toques de recolher espontâneos. A crise em Rosário já tem mais de dez anos, mas vem piorando desde o ano passado em meio a disputas pelo comércio de droga.
Em abril de 2023, o Estadão visitou a cidade e encontrou um clima de medo entre os moradores pelos tiroteios que aconteciam contra escolas, ônibus e hospitais. Mas, agora, facções rivais que historicamente brigavam nas ruas, parecem ter se unido em um único objetivo de provocar o Estado.
Analistas dizem acreditar que a crise em Rosário começou após uma medida da ministra da Segurança, Patricia Bullrich, que endureceu regras dentro das prisões, como visitas íntimas. No começo do mês, viralizou a imagem de detentos algemados no chão cercados por agentes fortemente armados na penitenciária de Piñero, famosa por manter nomes conhecidos do narcotráfico de Rosário. Na imprensa argentina, a foto foi comparada à política de encarceramento em massa de Nayib Bukele em El Salvador, nome que Bullrich e Milei já elogiaram.
Vingança
A medida provocou reações dos grupos criminosos, que parecem ter se unido em uma vingança generalizada. Depois de matar dois taxistas e um motorista de ônibus com tiros na cabeça, os grupos criminosos penduraram um cartaz em uma ponte avisando que continuariam “matando inocentes”. Logo depois, mais uma morte: Bruno Bussanich, de 25 anos, levou três tiros enquanto trabalhava em um posto de gasolina no dia 9, à noite.
“Essa guerra não é por território, é contra Pullaro e Cococcioni Assim como chegamos aos 300 mortos, estando unidos, mataremos mais inocentes por ano”, escreveram os grupos criminosos em um recado, citando Maximiliano Pullaro, governador de Santa Fé, província que abriga Rosário, e Pablo Cococcioni, ministro de Segurança da província. O número citado por eles remonta à quantidade de mortos por disparos em Rosário no ano passado.
A morte de Bruno provocou comoção, com Milei, Bullrich e a vice-presidente Victoria Villarruel prestando homenagens nas redes sociais. Após o episódio, Bullrich viajou para Rosário, onde montou um comitê de crise.
do Estadão