Lula vê possibilidade de soluções para Rússia, Ucrânia e Venezuela

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quarta-feira (19), em Bruxelas, que o mundo já está cansado dos impasses e dos conflitos contemporâneos, mas ressaltou que esse cansaço pode ajudar na busca por soluções. A afirmação foi feita em meio a comentários sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, bem como sobre os problemas internos e externos vividos pela Venezuela.

Segundo o presidente, esse “cansaço”, associado aos eventos negativos que naturalmente decorrem das duas situações de conflitos e impasses, poderão criar um” clima” por soluções mais depressa do que se imagina.

Nesse sentido, o presidente afirmou que é importante a participação de países não diretamente envolvidos nos processos de negociação.

Em entrevista coletiva, pouco antes de embarcar de volta para o Brasil, Lula disse que as reuniões ocorridas durante a Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE) possibilitaram aos países europeus melhor compreensão sobre o posicionamento moderado dos latino-americanos com relação à guerra entre Rússia e Ucrânia.

O presidente disse que compreende a dificuldade para os envolvidos direta ou indiretamente no conflito entenderem que o distanciamento de outros países menos envolvidos poderá ajudar em futuras negociações. “Obviamente não posso deixar de entender o nervosismo da UE. Afinal, há países que fazem fronteira com a Ucrânia”, disse Lula, ao citar o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky.

“Tem muita gente que estava nervosa e afobada há meses, que agora precisa de alguém que ajude a encontrar o caminho da paz. O Brasil tem feito isso [busca pela paz] desde o começo. Temos conversado sobre isso com China, Indonésia, América Latina. É preciso que a gente construa um grupo de países capazes de, no momento certo, convencer Rússia e Ucrânia de que a paz é o melhor caminho”, acrescentou.

Lula reiterou o posicionamento do Brasil a favor de que se pare com a guerra o quanto antes, e que, depois, as partes se sentem à mesa para discutir. Segundo ele, não há como abrir o diálogo enquanto não houver um cessar-fogo. “Enquanto houver tiro, não se vai conversar”, lamentou.

O presidente brasileiro disse que seu enviado especial aos dois países, o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, fez relatos sobre o quão assustadas estavam as pessoas nessas regiões.

“É normal que a preocupação deles seja maior do que a minha, que estou a 14 mil quilômetros de distância. Mas é exatamente pelo fato de estarmos distantes que podemos ter tranquilidade para tentar criar um clima de construção de paz”, argumentou. “Por enquanto, nem Zelensky, nem [Vladimir] Putin [presidente da Rússia] querem falar de paz porque cada um pensa que vai ganhar”, acrescentou.

“Mas já está havendo um cansaço. O mundo começa a se cansar. Os países começam a se cansar. Então vai chegar o momento em que vai ter paz. Aí vai ter de ter um grupo de países capazes de conversar com a Rússia e com a Ucrânia”, completou.

Lula aproveitou o tema para falar também do “cansaço” pelo qual passam a Venezuela e seu povo, em meio aos questionamentos sobre a política interna e sobre as sanções externas aplicadas contra aquele país pelos Estados Unidos.

Reunião

Durante a cúpula na Bélgica, foi divulgada uma declaração conjunta, assinada pelos presidentes da França, Argentina, Colômbia e Brasil, pedindo ao governo venezuelano e a representantes da oposição que retomem o diálogo e assegurem a organização de eleições livres e transparentes no país.

O documento foi publicado nesta terça-feira (18), um dia após reunião, em Bruxelas, entre os presidentes dos quatro países, com a participação do Alto Representante da União Europeia para Relações Exteriores e Política de Segurança, Josep Borrell.

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